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Território em mudança de tom - estratégias verdes para a gestão da água

24 setembro 2024

No passado mês de Junho foi aprovada na União Europeia a Lei de Restauro da Natureza. Esta, que gerou um debate aceso entre os ministérios do ambiente dos Estados Membro e que esteve prestes a não ser concretizada, revela um posicionamento europeu concentrado em medidas concretas com vista à inversão do declínio dos seus habitats naturais.

 

por Luis Filipe Andrade Fernandes

 


Meishe River Greenway e Fengxiang Park, um projeto do atelier Turenscape, dirigido pelo arquiteto Paisagista Kongjian Yu, autor do conceito de Cidade Esponja, para a cidade de Haiku, China, que propõe o controlo das monções a partir de soluções baseadas na Natureza para a gestão do caudal e simultâneo uso dos habitantes.
Fotografia © Turenscape

 

A lei, que implica que os Estados Membros introduzam medidas de recuperação da natureza em um quinto dos seus territórios terrestres e marinhos até 2030, obriga que cada país da UE faça o seu Plano Nacional da Natureza, executando-o em articulação com a academia e sociedade civil.

 

A ideia de regeneração do território não é missão nova, mas à luz desta lei e dos vários acontecimentos climáticos catastróficos que vêm assolando o território mundial interessa refletir também sobre os modelos aplicados na gestão do território como um todo, não apenas nas zonas denominadas verdes ou naturais.

 

O debate concertado entre a esfera política, academia, indústria e vários especialistas do sector tem levantado outras possibilidades para a gestão integrada do território que transitem da infraestruturação, como temos conhecido, assente em soluções cuja produção e funcionamento representam significativa pegada carbónica - as chamadas soluções cinzentas ‘assentes em modelos extrativos e que têm o betão como material representante - para uma abordagem mais simbiótica, que emule comportamentos naturais ou reintroduza métodos, tendencialmente assentes na tradição local, de trabalho com o território a partir da suas qualidades específicas.

 

Estas soluções, comumente conhecidas como Nature Based Solutions (Soluções Baseadas na Natureza) têm vindo a afetar o imaginário de paisagistas, arquitetos, geógrafos e tantos outros especialistas, dentro dos respetivos seios disciplinares, tendo também cada vez mais exemplos práticos, de escala significativa, que comprovam e reforçam tanto a sua aplicabilidade como a sua urgência.

 

Um dos temas, dentro desta perspetiva de gestão do território, onde se tem gerado maior debate é a gestão da água, tanto em territórios urbanos como rurais.

 



Abrangendo uma vasta área da cidade, o Parque Florestal Benjakitti, projeto do atelier Turenscape, simboliza uma jornada transformadora de um antigo local industrial para um próspero santuário ecológico, servindo como um testemunho do desenvolvimento urbano sustentável e da responsabilidade social. 

Fotografia © Turenscape

 

No caso concreto de Portugal, das situações mais polémicas, destacam-se o Plano de Drenagem da cidade de Lisboa ou a concentração de água de irrigação na barragem do Alqueva para abastecimento de terrenos agrícolas no Alentejo.

 

De matriz diferente, a primeira procura uma solução que anteveja a catástrofe das cheias na cidade, a segunda para responder a produção agrícola intensiva, ambas representam soluções com significativo investimento e cuja estratégia é assente na infraestruturação dita cinzenta do território.

 


Fotografia da região e barragem do Alqueva, Alentejo, em 2019 ©Mariana Abrantes, gentilmente cedida pela artista.

 

No Alqueva a situação mais significativa talvez seja o propósito de transformação em terrenos agrícolas, com um plano aprovado em 2017 de aumento de blocos de regadio e recentemente revisto, de um dos territórios mais secos do país. Para tal adotou-se uma solução de concentração de água, via barragem e respetivo sistema de regadio, que servisse cerca de 10 mil hectares.

 

Consequência das alterações climáticas, que têm feito subir as temperaturas médias e diminuído os índices de precipitação, o plano tem vindo a ser revisto à luz da sustentabilidade prevista para o ecossistema deste território.

 

Por outro lado, no caso de Lisboa, o Plano de Drenagem prevê, além da melhoria e reforço da rede de saneamento existente, a construção de bacias de retenção e dois grandes túneis de drenagem das águas pluviais.

 

O plano, dotado de um significativo investimento de 250 milhões de euros, procura dar resposta às inundações frequentes numa cidade onde a água, correndo em direção ao rio ao longo dos canais de água que acompanham a topografia de colinas e vales do território onde se implantou a cidade, se concentra nas zonas baixas junto ao leito do Tejo.

 

Recentemente em Portugal, a propósito de um Seminário sobre infraestruturas verdes, o arquiteto paisagista Kongian Yu, precursor em temáticas de ecologia urbana e autor do conceito de Cidade Esponja, comentou a solução adotada para o plano de drenagem, apontando-lhe de imediato as limitações do tempo. Assumindo que esta é uma solução “business as usual” Yu aponta a curta durabilidade e intensa manutenção necessária da infraestrutura, nomeadamente do betão, mas também os próprios volumes de concentração de água tidos em conta, considerados hoje em dia históricos, mas que à luz do desenvolvimento e consequências das alterações climáticas, rapidamente poderão ser superados, tornando a estrutura obsoleta.

 

Na conferência que proferiu durante o Seminário, Kongjian Yu, além da sua postura holística e integrada para a gestão de água nos territórios, apresentou vários projetos desenvolvidos pelo seu atelier, Turenscape, no continente asiático.

 


O projeto para Meishe River Greenway e Fengxiang Park, do atelier Turenscape, conjuga a gestão do ciclo da água e respetivo aproveitamento, as condições extremas que pode causar, nomeadamente cheias durante a época de monções, e o usufruto da população a partir da criação de uma grande zona verde com valências diversas. 
Fotografia © Turenscape

 

Impactantes visualmente, como oásis na selva de betão de grandes metrópoles asiáticas, os projetos revelam também a aplicabilidade de soluções eco conscientes que se desenham de forma integrada com a natureza e não contra ela.

 

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